sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alan Ball o Criador e vampiros falam de True Blood


Matéria 'MARA' do site PipocaModerna confira:

As expectativas para a 4ª temporada de “True Blood” não são pequenas. O episódio de estreia, exibido no domingo (26/6) no canal pago americano HBO, foi assistido por 5,4 milhões de telespectadores, audiência mais alta da série e um aumento de 6% em relação ao começo da temporada anterior. E se o público continua prestigiando, a crítica especializada, que teve o privilégio de assistir a alguns dos novos episódios com antecedência, confirma que a série se defende neste ano com uma garra que parecia perdida no fim de 2010.
Tropeços à parte, o criador Alan Ball, premiado roteirista de “Beleza Americana” (1999) e idealizador da série “A Sete Palmos” (“Six Feet Under”, 2001–2005), parece muito orgulhoso da 3ª temporada como um todo, e ainda mais ansioso pelo que virá a seguir. Ball concedeu uma entrevista para promover o retorno da série, na qual comentou, com especial afeição, sobre a excelente participação de Denis O’Hare, que botou a temporada anterior no bolso no papel do vampiro sociopata Russel Edgington.
“Denis é um grande ator. Ele me mandava e-mails gigantes com a história que havia pensando para o personagem, e eu responderia o que era ou não coerente dentro dos episódios futuros. Foi um prazer do início ao fim”, elogiou Ball. A parceria durou pouco: o arco do personagem foi encerrado no final da temporada, e não há planos de que seja retomado nos episódios atuais.
Ainda que houvesse essa possibilidade, Ball não parece muito disposto a olhar para trás – em especial, nos pontos que não funcionaram muito bem. “A série é grande demais e requer um foco absurdo. Quando você termina algo, você só segue em frente”, explicou, sobre o intenso processo criativo.
Ele garante, contudo, que está satisfeito com o resultado da 3ª temporada, e que, em sua percepção, muitas das reações negativas são frutos da paixão exacerbada dos espectadores. “Os fãs de gênero são intensos demais. Se eles gostam de você, eles te adoram, mas se eles não gostam de você, eles praticamente te querem morto”, disse, sombriamente.
Essa teoria, válida para todas as séries no ar, se aplica especialmente a “True Blood”, um dos cults mais instantâneos da TV dos últimos anos. Custou pouco para a série ganhar uma intensa legião de seguidores, algo que o elenco tem constatado na pele – e pelo menos dois dos integrantes se manifestaram a respeito. Também falaram com a imprensa os atores Stephen Moyer e Alexander Skarsgaard, intérpretes dos vampiros Bill e Eric, respectivamente.
Juntos da mocinha Sookie Stackhouse (Anna Paquin, recém-casada com Moyer na vida real), eles formam um dos triângulos amorosos mais picantes da televisão, e chega a ser irônico que, dentre tudo o que “True Blood” tem de original, um de seus pilares seja um dilema amoroso do estilo “Quem vai ficar com Sookie?”. Os coadjuvantes pitorescos ajudam a colorir a drama, mas são mesmo os três personagens que servem de refrão para a ação.
Moyer, contudo, não se diz surpreso pelas proporções fenomenais da atração. “Quando entrei à bordo, sabia da possibilidade de se tornar algo grande”, confessou. “Aliás, todos que haviam lido o roteiro do piloto sabiam o mesmo”, emendou.
Ainda assim, ele diz que não estava ciente de que todos os episódios se encerrariam justamente no clímax da ação, instigando e praticamente obrigando o público a sintonizar no capítulo seguinte. Uma maneira eficaz, enfim, de viciar perdidamente o espectador. “Nós vendemos drogas”, brincou o ator sobre o efeito de “True Blood” em seu target.
Skarsgaard, por sua vez, não ganhou o público de primeira. Para começar, não participou do episódio piloto, pois seu personagem só foi introduzido a certo ponto da 1ª temporada – a princípio, a outra vértice do triângulo entre Sookie e Bill era o metaformo Sam Merlotte (Sam Trammell), dono do bar aonde a moça trabalhava como garçonete. A decisão foi coerente com o desenvolvimento da narrativa, estabelecida não por Ball, mas pela autora Charlaine Harris, cujos livros “Southern Mysteries” serviram de inspiração para o programa.
“Eu li os primeiros cinco livros da coleção antes de começarmos a filmar a temporada inicial para entender esse mundo”, relembrou Alexander. Como, teoricamente, cada livro serve de base para uma temporada diferente, ele aproveita o início da produção anual para revisitar o volume correspondente. “Reli o quarto livro antes de rodarmos essa temporada, e agora que terminamos, vou reler o quinto antes da próxima”, afirmou.
Ele admite, porém, que a série é apenas levemente baseada nos livros, uma distância que foi se tornando maior no desenrolar dos episódios. “Mas, ainda assim, meio que me dá uma ideia do que teremos no ano que vem e me dá algo para pensar durante o hiato”, disse.
Na prática, a série difere muito dos livros, mas Ball garante que a essência da prosa da autora é preservada integralmente – mais do que isso, é o que serve de norte para a equipe. “O desafio é contar a história de uma maneira que englobe todas as outras histórias ao longo da temporada, de um modo que seja fiel aos livros de Charlaine e, ao mesmo tempo, tudo o que queremos que a série seja”, explicou.
A equipe de roteiristas trabalha em prazos apertados, para uma produção igualmente disciplinada. “Às vezes, rodamos três episódios de uma vez”, revelou Ball sobre o processo. “O show evoluiu para algo mais complicado que fazer vários filmes, apesar do nosso orçamento não ter os luxos de um longa”, completou. No caso das séries da HBO, cuja duração dos episódios varia entre 50 minutos e 1 hora e a fotografia não deve em nada para as produções de cinema, a comparação é muito coerente.
Mesmo em comparação com os outros seriados de seu gênero, “True Blood” sempre pareceu estar degraus acima. Para Moyer, isso se deve à coerência do enredo.
“O escopo de uma série de vampiro te permite ser fantasticamente louco, mas, no nosso caso, também é ancorado na verdade”, declarou o intérprete do vampiro Bill. “Acho que a nossa série é uma forma do Alan discorrer sobre o que há de certo e errado com a sociedade, de uma forma que as pessoas não sintam que ele está forçando isso mente adentro”, disse.
Stephen cita, também, outro seriado atual que, em sua percepção, atinge o mesmo resultado – o rival “The Walking Dead”, série de zumbis do concorrente AMC. E Alexander endossa a opinião do colega sobre “True Blood”. “A série é exagerada. É sexy, selvagem, violenta, tudo isso, e deixa uns 45 ganchos por episódio, mas, ao mesmo tempo, tem os pés no chão e é sobre a nossa sociedade. Não é uma ficção-pipoca”, refletiu.
Apesar da profundidade indelével, tanto Moyer como Skarsgaard sabem, também, que os pontos mais rasos do enredo deliciam o público em mesmo número e grau. O triângulo com Sookie, por exemplo, foi mote de perguntas. “Ela está vendo um lado novo do Eric, mas não é como se ela odiasse o Eric que ele era antes e gosta do Eric que ele é agora. É mais complicado que isso, e terá muitos tons de cinza”, sugere Alexander sobre os episódios que estão por vir.
á Moyer prefere se focar em Bill como um personagem isolado, o que deve ser possível agora que ele e Sookie parecem ter dado um tempo permanente. “Como Bill e Sookie foram por caminhos diferentes, ele se encontra em uma situação em que tem que fazer algo mais”, comentou.
A vampira Jessica (Deborah Ann Woll), que Bill foi forçado a criar na 1ª temporada, desempenha, segundo Moyer, um papel importante na vida do personagem. “O Bill já tentou libertá-la na temporada anterior, mas ela não vai embora, e o faz perceber que ele tem algo pelo que viver. Ele percebe que cometeu alguns erros e tentará ser uma pessoa melhor”, explicou.
Os atores também fazem juras mútuas de admiração e respeito, garantindo que o clima no set é o mais leve possível, apesar da rivalidade fictícia entre seus personagens e tudo mais de sinistro e bizarro que acontece no universo de “True Blood”.
Exemplo: Alexander deve ter cenas mais íntimas com Anna Paquin, esposa de Moyer, mas os dois conversaram abertamente a respeito. “Fui até ele no começo da temporada e disse, ‘Olha, não se preocupa, faça o seu trabalho o melhor que puder. Não precisa ficar se policiando pra ver se eu estarei acompanhando tudo pelo monitor’”, comentou Moyer, em um misto de brincadeira e conversa séria.
Para o bem de “True Blood”, a civilidade só ocorre atrás das câmeras. Os episódios em si continuarão à beira do caos e da anarquia. Isso porque, na concepção de Alan Ball, “os vampiros são uma grande metáfora para o sexo”. “Acho que é óbvio que muitas pessoas fantasiam em serem abduzidas por vampiros, talvez porque seja algo tão impossível de acontecer que elas se sintam seguras em fantasiar a respeito”, ponderou o criador.
E a sua criação está aí para transformar esses devaneios em imagens em movimento – com altos e baixos, hoje e sempre. “É difícil fazer uma série de TV. Algumas temporadas serão melhores do que outras, e alguns episódios também serão melhores do que outros. Você só vai fazendo o melhor que pode”, encerrou Ball. Com sorte, esses melhores serão, também, referência para toda a engrenagem da televisão.

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